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O desafio de fazer bem feito

A secagem perfeita pode ser a chave da competitividade para os cafés de Rondônia

Por: Reymar Andrade, Pinhalense

Ainda é comum a utilização secadores mecânicos de fogo direto e uso de altas temperaturas, que transferem cheiro de fumaça ao café

O consumo de cafés no mundo vem crescendo, em especial os de qualidade superior. Este fenômeno ocorre devido ao surgimento de novos mercados. A procura é por grãos que, além da qualidade organoléptica da bebida, também tenham origem, procedência, sustentabilidade e estejam inseridos em um contexto ambiental e cada vez mais social. Esta nova onda de evolução gera novos padrões de consumo do café em mercados tradicionais e emergentes.

Neste cenário, o café de Rondônia parece perfeito, pois, é produzido em uma região do bioma amazônico, com solos férteis, boa topografia, índice pluviométrico, temperatura e insolação adequados ao desenvolvimento das plantas. Além disso, tem um modelo fundiário extremamente pulverizado, familiar e social.

Contexto ideal ao atendimento deste mercado ávido às novas e boas origens. Para o café, da produção ao consumo, a qualidade é o centro das atenções. Dentre todos os fatores inerentes à sua produção, a pós-colheita está entre as etapas mais determinantes. O processo se inicia no momento correto da colheita, passa pelo processamento dos frutos (via úmida ou seca), secagem até o beneficiamento.

Apesar da importância da etapa de pós-colheita para a qualidade de bebida e agregação de valor, ainda é negligenciada por muitos cafeicultores. É comum a colheita com alto índice de frutos verdes, longo tempo de espera no campo ou na fila dos secadores. O processo de secagem é realizado de forma inadequada. O uso de altas temperaturas e fogo direto, resultam em grãos de aspecto escuro, alta quantidade de defeitos, cheiro de fumaça e, consequentemente, menor valor agregado.

Mas, isso está mudando e, cada vez mais produtores percebem o quanto o processo de secagem bem feito pode representar ganhos em rendimento e qualidade no produto. Em sua maioria, são técnicas simples e eficientes para a manutenção da integridade dos frutos e grãos após a colheita. Como parte da evolução pela qual passa a cadeia produtiva do café em Rondônia, os cafeicultores começam a investir em tecnologias em todas as etapas de produção. Esta é uma oportunidade única para o estado se consolidar como região de origem de robustas diferenciados pela qualidade, basta fazer bem feito.

A secagem dimensionada corretamente e realizada com temperatura adequada e fogo indireto preserva a qualidade e a renda do café beneficiado
Panorama e benefícios da secagem

Ao longo da história da cafeicultura rondoniense foram incluídos materiais seminais e clonais de robusta e conilon, ambos canéfora, resultando em híbridos “arrobustados” que conferem diferencial qualitativo em bebida e quantidade de peneiras graúdas.

As vantagens de Rondônia não param por aí, estes materiais fazem parte da evolução tecnológica que vem acontecendo na renovação do parque cafeeiro. Isso se dá com o uso de materiais clonais de genética superior, práticas de adubação, manejo da poda e irrigação. São plantios mais eficientes e produtivos que fazem com que Rondônia se destaque em produção e produtividade.

A estimativa de produtividade média das lavouras no estado ultrapassará a marca inédita de 30 sacas por hectare para a safra de 2018. Isso representará também um ganho em produção, serão mais de 2 milhões de sacas. Esse cenário positivo gera uma demanda, pois, a necessidade de logística de beneficiamento e secagem dos frutos e grãos cresce no
mesmo ritmo, no entanto a estruturação para tal, não.

Atualmente, é observado no estado o uso de sistemas de secagem natural em pátios e terreiros, cobertos ou não. Entretanto, eles têm demanda por mão de obra para a movimentação dos cafés, algo que é crítico no momento da colheita, já que as propriedades são de base familiar e todos estão envolvidos. Além disso, é um processo lento e bastante dependente das condições climáticas.

Outro sistema utilizado é a secagem mecânica, feita em associações ou prestadores de serviço, conhecidos como “maquinistas”. Este sistema tem baixa demanda por de mão de obra e o processo de secagem é rápido. Não expõe os frutos e grãos ao risco de chuvas que favoreçam o processo fermentativo. Entretanto, ainda é comum a utilização secadores mecânicos de fogo direto e uso de altas temperaturas, que transferem cheiro de fumaça ao café, causam desuniformidade na secagem e danos físicos e químicos aos grãos.

Apesar de ser este o meio responsável pela secagem e beneficiamento da maioria dos cafés produzidos no estado, não atende à demanda atual e crescente, pois, há falta de infraestrutura compatível com a produção em Rondônia. Por isso, os cafeicultores colhem e armazenam os frutos em sacarias na própria lavoura ou em pátios à espera do momento do transporte e início do processo de secagem.

Mais uma vez, os frutos ficam expostos à umidade, temperatura e a ação de fungos e bactérias que ocasionam fermentações indesejáveis que, aliadas à secagem com altas temperaturas, reduzem a renda do café e aumentam o índice de defeitos.

A secagem dimensionada corretamente e realizada com temperatura adequada e fogo indireto preserva a qualidade e a renda do café beneficiado. Além de evitar o aparecimento de inúmeros defeitos e o cheiro de fumaça. Isso é possível graças a um sistema que trabalha com calor irradiado e câmaras independentes.

Em um comparativo do efeito do tempo de secagem e sistemas de fogo direto e indireto, sobre a renda do café em grãos pilados, se observou que os melhores resultados foram obtidos no sistema de secagem que utiliza temperaturas de massa até 60° C e fogo indireto. O que confere maior rentabilidade e, consequentemente, menor custo por saco beneficiado (tabela1). Neste contexto, a velocidade e a temperatura inadequados são inimigos ocultos da qualidade.

A cafeicultura de Rondônia, por meio do Concurso de Qualidade, Concafé, chama a atenção de provadores e compradores de café. Isso é resultado da combinação entre genética, ambiente e boas práticas de manejo pré e pós-colheita. Os produtores estão se capitalizando e investindo em suas propriedades.

Esse é momento de fazer bem feito, investir em sistemas modernos e eficientes de produção para que a cafeicultura do estado atinja novos patamares. O desafio é tornar Rondônia reconhecida como produtor de volume e qualidade, com cafés que se destaquem além dos concursos de qualidade. Se consolidar em seu próprio mercado e explorar novas fronteiras.

O diferencial do café de Rondônia passa pela qualidade. Sua localização geográfica, ao mesmo tempo em que têm diferenciais em relação à origem amazônica, perde em logística e agrega custos. A cafeicultura rondoniense compete com cafés de outras regiões, que estão mais próximas às indústrias brasileiras de torrefação e dos principais portos de exportação. O desafio é fazer bem feito e tornar o produto amazônico atrativo em um mercado cada vez mais competitivo e cheio de oportunidades.

Fonte: Revista Cafés de Rondônia, edição nº03 – Embrapa Rondônia

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