NotíciasTecnologia

Criada biblioteca virtual de estruturas químicas para reunir dados da biodiversidade brasileira

Arte: Artem Ergorov

A Embrapa acaba de organizar uma biblioteca virtual de estruturas químicas associadas à biodiversidade brasileira. Inicialmente, o banco de dados reunirá informações sobre substâncias isoladas de folhas de cajueiro, cajazeira, umbuzeiro e abacaxizeiro. Mas os organizadores pretendem, no futuro, ampliar o acervo, incluindo outras espécies. O objetivo é facilitar a descoberta e o uso de princípios ativos escondidos em bancos de conservação de material genético.

A biblioteca encontra-se em versão beta para realização de testes antes da liberação de acesso, que será concedido a pesquisadores da Embrapa e cientistas parceiros. O sistema fornacerá, remotamente, inúmeros dados sobre substâncias químicas isoladas das plantas catalogadas, o que deve abreviar o tempo de pesquisas.

Será possível consultar imagens de moléculas em 2D e 3D e obter informações sobre suas estruturas, tais como massa exata, massa relativa e demais propriedades. Serão disponibilizados também dados das espécies associadas, como genótipos, tipos de cultivar, estudos fitoquímicos e bioensaios realizados, além das coordenadas geográficas de onde a amostra foi coletada e sua localização por meio do Google Maps.

Cada estrutura química disponível na plataforma virtual corresponde a uma amostra da planta preservada em uma cápsula congelada a -80°C no Laboratório Multiusuário de Química de Produtos Naturais, na Embrapa Agroindústria Tropical (CE). Os pesquisadores acreditam que o projeto possibilitará o avanço do conhecimento a respeito da quimiodiversidade e da variabilidade de metabólitos (substâncias ou princípios ativos) dos Bancos Ativos de Germoplasma (bancos de conservação de material genético).

Impulso para a bioeconomia

“Ao longo de 20 a 30 anos, esse banco de dados será um valioso ativo da Embrapa”, festeja o pesquisador Guilherme Julião Zocolo, um dos membros da equipe que está por trás da novidade. Ele salienta que a biblioteca deve facilitar o desenvolvimento de novos produtos a partir das espécies catalogadas, porque as informações estarão organizadas e facilmente disponíveis aos pesquisadores.

“A ferramenta representa um salto de qualidade na possibilidade de valoração dos recursos da biodiversidade”, afirma Zocolo. O pesquisador lembra que ainda é muito pouco explorada a criação de bibliotecas de substâncias biologicamente ativas ou de extratotecas associadas a bancos de dados químicos e farmacológicos. “Essa associação é importante para a seleção de novas aplicações e desenvolvimento de novos produtos, o que repercute em avanços na bioeconomia”, diz.

As bibliotecas possibilitam, ainda, efetuar a técnica de desreplicação, que permite a identificação de substâncias a partir de análises rápidas, por meio de triagem e sem o isolamento, o que economiza tempo e recursos. Atualmente, para identificar moléculas, o pesquisadores precisam usar métodos para isolar a substância a ser estudada, o que exige recursos e demanda mais tempo. Com a desreplicação, o processo de identificação torna-se mais ágil e acertivo, acelerando assim a descoberta de moléculas de interesse.

Busca de substâncias anticâncer

A nova biblioteca é um dos resultados de um projeto da Embrapa iniciado em 2016, que tem como objetivo prospectar, identificar quimicamente e catalogar substâncias bioativas com potencial anticâncer em umbuzeiro, cajazeiro e abacaxizeiro. A primeira parte do projeto inclui, entre outras atividades, a catalogação de cerca de 100 substâncias naturais e mais de 100 extratos vegetais do Banco Ativo de Germoplasma da Embrapa Agroindústria Tropical, bem como toda a estruturação física da biblioteca.

A estrutura física para preservação das amostras já está em pleno funcionamento no Laboratório Multiusuário de Química de Produtos Naturais. A coleta das amostras, catalogação e descrição dos dados é feita por uma equipe multidisciplinar e envolve equipamentos analíticos de alta tecnologia, como Cromatografia de ultraeficiência acoplada a espectrometria de massas e Ressonância Magnética Nuclear (RMN).

“O projeto conta com o envolvimento de toda a equipe do Laboratório Multiusuário de Química de Produtos Naturais: os pesquisadores Edy Sousa de Brito, Kirley Canuto e a anlista Lorena Mara, um grupo com profissionais de diferentes áreas que se complementam. Além disso, outras competências foram agregadas, com a participação de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal da Paraíba (UFPB)”, explica Guilherme Zocolo.

Expertise de químicos e programadores

Para auxiliar a implementação da interface web da biblioteca, o professor Fernando Batista da Costa, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FCFRP-USP), acabou de iniciar uma temporada de dois meses como pesquisador visitante no Laboratório Multiusuário de Química de Produtos Naturais da Embapa. A permanência do professor foi possível graças a um outro projeto submetido pela equipe da Embrapa à Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap).

Fernando Batista da Costa é pós-doutor em quimioinformática pelo Computer-Chemie-Centrum da Friedrich-Alexander-Universität Erlangen-Nürnberg, Alemanha. Ele foi o mentor do AsterDB, banco de dados de estruturas químicas da espécie Asteraceae (família do girassol) mantido pela FCFRP-USP em colaboração com a UFPB.

Segundo o professor, o sistema em desenvolvimento na Embrapa será muito parecido com o AsterDB e contará com o auxílio da mesma equipe de desenvolvedores – um grupo de pesquisadores da UFPB, que reúne químicos e programadores.

Fernando da Costa explica que esse tipo de biblioteca acelera o trabalho de inovação tecnológica e apresenta aplicações em diversas áreas, como agricultura, farmácia e ecologia. No mundo, existem inúmeras bibliotecas desse gênero, algumas especializadas na comercialização de dados. No Brasil, apenas duas são públicas e ligadas a universidades. Além da AsterDB, o Núcleo de Bioensaios Biossíntese e Ecofisiologia de Produtos Naturais da Universidade Estadual Paulista (NuBBE-Unesp) mantém o NubbeDB, um banco de dados virtual de produtos naturais e derivativos da biodiversidade brasileira.

Verônica Freire (MTb 01225/CE) 
Embrapa Agroindústria Tropical 

One thought on “Criada biblioteca virtual de estruturas químicas para reunir dados da biodiversidade brasileira

Deixe um comentário para best place to buy generic cialis online Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

70bet.com paga