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Controle da broca-do-café

Alternativas aos cafeicultores após a proibição do Endossulfam

Por: José Nilton Medeiros Costa – Embrapa Rondônia

A broca-do-café é uma das principais pragas do cafeeiro em Rondônia. Ela provoca severos prejuízos, como apodrecimento de grãos e queda de frutos broqueados; perda de peso e qualidade no café beneficiado; limitação de produção de sementes de café; depreciação do produto na classificação
e perda de mercado consumidor externo.

Nos últimos anos vivenciou-se um dilema em relação ao controle da praga com inseticida. Tudo começou com a proibição de uso do Endossulfam, considerado altamente tóxico ao ser humano.

Dos inseticidas registrados para a cultura do café, o Endossulfam, até a sua proibição em Rondônia, era o único princípio ativo reconhecidamente eficaz no controle da broca-do-café. Além dele, só havia o registro de alguns produtos do princípio ativo Clorpirifós, cuja limitação em termos de média eficiência é reconhecida a campo.

Somente em 2016 foram registrados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) dois inseticidas para esta praga: Benevia, que possui como ingrediente ativo o Ciantraniliprole e Voliam Targo formulado a partir das moléculas Clorantraniliprole e Abamectina. Além desses produtos, vários outros foram registrados para broca-do-café, conforme relacionados na Tabela 1.

Vale lembrar que o fato de um produto ser registrado não significa que tenha ótima eficiência para a praga-alvo. Os novos produtos são relativamente caros em comparação ao Endossulfam e ainda não
há comprovação de que são eficientes em todas as áreas e regiões produtoras de café, como é o caso de Rondônia. Esses novos produtos são menos tóxicos e nocivos ao meio ambiente, principalmente aqueles das classes IV e III descritos na Tabela 1.

Como controlar a broca

A maneira mais adequada para acompanhar a infestação da broca e realizar o controle no momento oportuno, é fazer amostragem mensal na lavoura. Recomenda-se iniciar quando os frutos estiverem na fase de chumbo e chumbões, período em que as sementes já estão formadas, sendo a fase em que a broca perfura o fruto e pode fazer a postura de ovos.

Para fazer a amostragem na lavoura, deve-se percorrer o talhão em zig-zag e tirar de cada planta escolhida ao acaso, 20 frutos (cinco em cada face da planta). O número de plantas a ser amostrado depende do tamanho do talhão. Para talhão com 1.000 plantas, amostra-se no mínimo 30 plantas; talhão com 1.000 a 3.000 plantas, 50 plantas devem ser amostradas; se o talhão tiver 3.000 a 5.000 plantas, amostra-se 75; e acima de 5.000, deve-se amostrar 1,5% das plantas.

Os frutos de cada talhão formarão uma única amostra. Em seguida, faz-se a separação dos frutos brocados e não brocados para a determinação da porcentagem de infestação. De forma prática, o resultado será obtido, multiplicando-se o número de frutos brocados por 100 e dividindo-se este resultado pelo número total de frutos da amostra.

Arte: Epamig

O controle químico deve ser iniciado quando a porcentagem de frutos broqueados for igual ou maior que 3%. Deve ser realizado nas partes mais atacadas da lavoura. Como o ataque não se distribui uniformemente recomenda-se o controle apenas para os talhões cuja infestação da praga já tenha atingido 3%.

Com esse procedimento evitam-se gastos desnecessários com mão de obra e inseticida, e reduzem-se os impactos relacionados ao uso de agrotóxicos. Mesmo após o controle, o monitoramento deve continuar e, se a infestação voltar a alcançar o nível de controle, nova aplicação deve ser feita, respeitando os limites de carência do inseticida.

A redução do ataque da broca pode ser obtida fazendo-se uma colheita bem feita e executando o repasse na lavoura, para evitar que a praga sobreviva e passe para os frutos novos da próxima safra. Devem-se destruir os cafezais velhos e abandonados, nos quais a broca encontra abrigo e se multiplica livremente. Torna-se importante a conscientização dos vizinhos para que o controle da broca seja realizado, evitando a proliferação de focos para outras lavouras.

Observou-se, em lavouras de diversos municípios de Rondônia, a ocorrência de um fungo denominado Beauveria bassiana fazendo naturalmente o controle biológico da broca. É fácil perceber a presença do fungo, que fecha o furo feito pela broca na forma de um tufo branco. É comum encontrar o fungo envolvendo uma broca morta na entrada do furo, significando que a broca morreu infectada por ele antes de chegar à semente.

Nas lavouras onde ocorre o fungo, recomenda-se não fazer aplicação de agrotóxicos, a não ser que a infestação da broca ultrapasse 3% dos frutos broqueados sem infecção de B. bassiana. Produtos biológicos a base do fungo encontram-se registrados. O uso de componentes biológicos na formulação de defensivos ou de fertilizantes cresce significativamente. Responde a uma demanda da sociedade de restringir e ampliar o cuidado no manuseio e utilização dos componentes químicos e também pelo avanço significativo da pesquisa no setor. O único produto comercial registrado para broca-do-café a base de Beauveria bassiana é Bovemax EC (Tabela 1).

Para saber mais sobre esta e outras pragas do café que ocorrem em Rondônia veja vídeo produzido pela Embrapa sobre o assunto:

Relembrando
Em 9 de agosto de 2010, a Resolução-RDC nº 28 vetou de imediato a produção, o uso e a comercialização do ingrediente ativo Endossulfam em Rondônia, assim como para outros estados que constituíram esse grupo, pois a proibição foi diferenciada para dois grupos de estados da federação. Para o outro grupo, a retirada programada deste ingrediente ativo aconteceu no prazo de três anos, contados a partir de 31 de julho de 2010.

Fonte: Renata Kelly da Silva – Embrapa Rondônia

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