Ciência recupera solos degradados em áreas petrolíferas no Nordeste
Pesquisadores desenvolveram uma metodologia que possibilita o crescimento rápido de espécies arbóreas e arbustivas em áreas degradadas pelas atividades de exploração de petróleo e gás natural. A base é uma tecnologia já consagrada há mais de duas décadas para recuperação de áreas degradadas pela mineração e aplicada no Sudeste e no Norte do País. O trabalho de recuperação foi validado e conta com mais de uma década de estudos. Os cientistas pretendem agora capacitar técnicos para atuarem na recuperação de áreas degradadas a fim de que retomem a vegetação nativa ou sejam destinadas a lavouras ou pastagens.
O estudo, na região do Vale do Assu, no Rio Grande do Norte, é fruto de uma parceria entre a Embrapa e a Petrobras, e conta ainda com a participação da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa). “Nos plantios feitos há doze anos, já é possível ver animais e plantas da Caatinga nativa presentes, superando inclusive um dos maiores períodos de seca na região, entre 2012 e 2017”, atesta Alexander Resende, pesquisador da Embrapa Agrobiologia (RJ).
Os solos dessas áreas de exploração são muito pedregosos, com baixo teor de matéria orgânica, num bioma que chove menos de 600 mm por ano. Esse tipo de ambiente, criado a partir da mineração de piçarra, é um ambiente novo, não existente na Caatinga. Por esse motivo, foi necessário buscar espécies capazes de se adaptar a esse sistema. A técnica desenvolvida pela Embrapa utiliza principalmente espécies da família das leguminosas que, inoculadas com bactérias e fungos, adquirem maior resistência e conseguem crescer em meio ao solo degradado pela exploração do petróleo.
Drones monitoram a recuperação Os pesquisadores da Embrapa e da Petrobras introduziram novas ferramentas no monitoramento das áreas revegetadas, como o uso de drones para tirar fotos e avaliar como as plantas estão crescendo e ocupando o solo. “O objetivo nesse caso é ver a velocidade com que as plantas cobrem o solo e a taxa de variação entre o período de seca e de chuva”, revela o pesquisador da Embrapa Alexander Resende. Toda área é monitorada. Os pesquisadores querem avaliar o desenvolvimento e a sobrevivência das espécies introduzidas desde os primeiros anos do estudo, ver o efeito desses plantios no recrutamento natural de novas espécies e na recuperação do substrato dos ambientes degradados. “Ter a possibilidade de continuar avaliando experimentos de mais de dez anos nesse bioma ainda pouco estudado é um marco para a pesquisa”, analisa o engenheiro ambiental da Petrobras Frederico Machado.
São 191 hectares em processo de recuperação e cerca de 200 mil mudas plantadas. Segundo os pesquisadores, foram testadas várias espécies e formas de plantio. As juremas preta e branca, assim como o sabiá, são exemplos de algumas plantas que se adaptaram bem às jazidas. Elas são adubadas com esterco e, quando possível, plantadas sobre áreas nas quais adiciona-se solo superficial proveniente de novas alocações de poços de petróleo.
São 191 hectares em processo de recuperação e cerca de 200 mil mudas plantadas. Segundo os pesquisadores, foram testadas várias espécies e formas de plantio. As juremas preta e branca, assim como o sabiá, são exemplos de algumas plantas que se adaptaram bem às jazidas. Elas são adubadas com esterco e, quando possível, plantadas sobre áreas nas quais adiciona-se solo superficial proveniente de novas alocações de poços de petróleo.
As áreas recuperadas tinham características bem peculiares, pois se tratavam de jazidas de extração de piçarra (material utilizado em embasamento das construções civil e de petróleo, similar ao saibro) e poços de petróleo em terra. Diante de duas situações diferentes, os pesquisadores precisaram adaptar a técnica para cada uma delas.
Foco no plantio e na retenção de água
A viabilização de plantios em períodos secos, assim como a avaliação de métodos que aumentem a retenção de água no solo, foram premissas da parceria. Para contornar o estresse hídrico, os pesquisadores da Embrapa utilizaram estratégias para preservar a umidade do solo no pós-plantio, como a adição de palha de carnaúba, o uso de mudas com raízes alongadas e de condicionadores de umidade do solo como esterco e hidrogel. “Já temos plantas como a orelha-de-macaco e a jurema com mais de três metros de altura em menos de dois anos de plantio, o que é um resultado excelente para as condições em que estamos trabalhando”, comemora o pesquisador da Embrapa Guilherme Chaer,
Tecnologia na vitrine
Essa tecnologia de recuperação de áreas será apresentada no 6º Congresso Nordestino de Engenharia Florestal (Coneflor), que será realizado na segunda semana de maio, em Mossoró (RN). Os participantes do evento poderão visitar em primeira mão, no dia 10, a vitrine de tecnologias elaborada por pesquisadores da Embrapa e da Petrobras. O local será um espaço para troca de experiências sobre restauração ambiental da Caatinga.
Recuperar esse tipo de área degradada é complexo e pode ser bastante oneroso, dada a severidade de alteração no ecossistema. O gerente de Meio Ambiente do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Petrobras (Cenpes), Frederico Machado, explica que o objetivo inicial era reduzir o tempo e diminuir os custos da recuperação das áreas de exploração e produção de petróleo e gás natural no Nordeste. Mas a parceria entre os pesquisadores das duas estatais deu tão certo que o resultado pode ser levado para outras regiões. “Apesar das especificidades do bioma, acredita-se que algumas técnicas poderão ser utilizadas em outras unidades operacionais da companhia”, revela Machado.
Restauração ecológica com retorno econômico
A maioria dessas áreas são arrendadas e precisam ser devolvidas aos proprietários em condições para o desenvolvimento de atividades produtivas ou para recomposição da reserva legal da propriedade. O analista ambiental da Petrobras Erik Petric explica que as ações de recuperação ambiental são definidas de acordo com as diretrizes estabelecidas pelos órgãos de fiscalização ambiental e do uso que o proprietário pretende dar às suas terras ao recebê-las de volta. Petric acompanha as pesquisas no Rio Grande do Norte há 12 anos. “Sem essa técnica estaríamos enfrentando dificuldades para ter sucesso na recuperação das nossas áreas”, pontua o analista.
Embora já tenham comprovado o sucesso da técnica, os pesquisadores querem agora ampliar o número de espécies e também viabilizar novas alternativas de plantio que conciliem a restauração ecológica com o retorno econômico. “Estamos avaliando a adaptação de cerca de 30 espécies, entre elas algumas bem emblemáticas do Semiárido, como o mandacaru, a carnaúba e a catanduva, as frutíferas como o caju e o umbu, e outras com potencial madeireiro como o sabiá e a aroeira”, detalha Chaer.
Na área usada pela pesquisa, os cientistas pretendem criar uma espécie de vitrine de tecnologias para capacitação de técnicos e agricultores. “Queremos demonstrar que é possível dar uso econômico a essas áreas em processo de recuperação”, informa Chaer. A ideia é utilizar as técnicas de revegetação para restaurar o meio ambiente no bioma Caatinga e também introduzir sistemas de produção sustentáveis como, por exemplo, silvipastoris e agroflorestais.
As diferentes áreas a serem recuperadas
Jazidas de extração de piçarra: nessas áreas, toda a camada superficial do solo, rica em nutrientes, matéria orgânica, sementes e fauna foi retirada para se obter a piçarra, material utilizado em embasamento das construções civil e de petróleo, similar ao saibro. Isso deixa o solo praticamente sem vida, com crateras que podem chegar a alguns metros de profundidade. Em um cenário de extrema alteração no ecossistema, os pesquisadores precisaram proceder a ordenação da paisagem, direcionando a água proveniente de chuvas para pontos específicos, de forma a concentrá-la e criar “barrajonas”, grandes reservatórios de água que possibilitam a dessedentação animal, por exemplo. “Em um ambiente de Semiárido, essa técnica é extremamente valorizada pelo proprietário das terras”, explica o pesquisador Alexander Resende. Após essa etapa, também há a necessidade de ordenamento dos taludes, melhorando sua estabilização e efetuando o plantio com espécies capazes de resistir a essa situação de extrema degradação. A piçarra retirada é utilizada para fazer o embasamento em áreas de acesso e em novas alocações de poços de petróleo em terra. Poços de petróleo em terra: quando se identifica potencial ocorrência de petróleo em uma localidade especifica, são abertas áreas e retirado o solo superficial (que será utilizado para recuperação de antigas áreas degradadas). Nesses locais, visando permitir que a sonda de perfuração trabalhe, é adicionada a piçarra, que após compactação, permite a entrada da sonda no novo poço petrolífero. Esse material também é utilizado em estradas de acesso para esses poços. Após o encerramento da produção de petróleo, essa área também precisa ser revegetada
Fonte: Ana Lucia Ferreira (MTb 16913/RJ)
Embrapa Agrobiologia