Apreciadores de laranja, tangerina e limão podem parabenizar o citricultor
No dia 8 de junho foi comemorado o dia de quem planta, cuida e colhe citros – Veja a reportagem produzida pela Carla Gomes (MTb 281556) – Assessora de imprensa – IAC
“O citricultor é apaixonado! Muitos saíram do setor por questões econômicas, mas muitas famílias continuam batalhando”. Assim Dirceu de Mattos Junior, Diretor do Centro de Citricultura do Instituto Agronômico (IAC), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, resume o perfil do citricultor paulista neste Dia do Citricultor comemorado em 8 de junho, desde 1969.
Nesses 51 anos, a citricultura passou por grandes transformações. O citricultor viu a produtividade dos pomares dobrar, passando de menos de 20 toneladas, por hectare, para as atuais 40 toneladas. Esse salto se deu apesar de muitos desafios. Para cada uma das pressões vivenciadas ao longo das décadas, a ciência, em parceria com o setor de produção, gerou respostas que contribuíram para alavancar esse segmento econômico, que representa 54% da produção brasileira de frutas.
A ideia de Mattos é confirmada por quem cresceu nos pomares. Antonio Carlos Simoneti, citricultor e presidente da Associação Brasileira de Citros de Mesa (ABCM), trabalha nos pomares desde os seus sete anos. Aos 42, conta que “ser citricultor é uma paixão, herdei de família e peguei gosto, tem momentos difíceis, tem momentos de glória, tem problemas com o clima”, resume, ao comentar que a próxima safra deverá ter perdas de 30% em razão da falta de chuva e de temperaturas elevadas, que impactam as floradas e, consequentemente, o sabor do suco.
Por outro lado, ele comenta que a pandemia da COVID-19 incentivou o consumo de laranja e também da tangerina Ponkan, que está em plena safra. “Tem altos e baixos, mas ganhamos mais do que perdemos, é o que a gente sabe fazer”, assevera o citricultor, que adota novas tecnologias de irrigação e adensamento e participa do Projeto Citricultura Nota 10, do Centro de Citricultura do IAC. Simoneti adota tecnologias do Instituto Agronômico, dentre elas cultivares de laranja Pera, tangerinas e já tem instalado um pomar com a IAC Maria, a primeira tangerina 100% nacional.
Simoneti é a quarta geração da família de citricultores. Junto de seu pai, Luís Carlos Simoneti, e de duas irmãs agrônomas, ele conta que cuida de 600 mil pés de citros de mesa, distribuídos por seis áreas em Aguaí, interior paulista, e Minduri, no Sul de Minas Gerais. Ele relata que as frutas destinadas ao mercado in natura exigem elevado padrão de qualidade.
Tangerinas, por exemplo, não podem bater e amassar. “Já trabalhei em todos os elos da cadeia de produção: no balcão do packing do meu pai, tive box na CEAGESP em São Paulo por cinco anos, trabalhei na roça e faço parte da indústria”, resume. A decisão de deixar a venda no box foi motivada pelo objetivo de produzir qualidade no campo.
Com essa meta, de segunda a sábado ele está na lida, dividindo-se entre os pomares paulistas e mineiros, distantes 360 quilômetros. No total, Simoneti produz, por ano, 700 mil caixas de laranjas, tangerinas e limões, que seguem para vários outros Estados. “A citricultura é a cultura que mais gera riqueza no município, que mais gera empregos, por hectare”, afirma, ao comentar o manejo manual das espécies.
A diretora do Instituto de Economia Agrícola (IEA), Priscilla Rocha Silva Fagundes, confirma essa informação: “As cidades em nosso Estado em que os citricultores se dedicam a trabalhar com afinco têm os melhores índices de desenvolvimento humano. O citricultor leva qualidade de vida à sua região, emprega muita gente, leva o nome do Estado de São Paulo para todo o planeta como maior produtor mundial da fruta. Isso é para poucos”, destaca.
Para Mattos, os 51 anos do Dia do Citricultor representam uma data marcante. “Quando olhamos para trás, reconhecemos os esforços de gerações inteiras dedicadas à citricultura, vemos no presente empresários de sucesso e olhamos para frente e encontramos empreendedores que querem demonstrar a confiança que o produto gerado por seu trabalho, suco de laranja ou fruta fresca, pode oferecer ao consumidor nos vários cantos do mundo, contribuindo para elevar a qualidade de vida das pessoas”, diz.
José Jaime Alves de Azevedo, pequeno citricultor de Mogi Mirim, no interior paulista, já dedica 46 anos da sua vida à citricultura. Trabalhava com o pai com outras culturas e ao se casar, aos 22 anos, passou a cuidar do próprio pomar. “Devia ter ingressado na citricultura antes, mas achava que demorava muito pra começar a produzir”, lembra.
Atualmente, com 68 anos, senhor José trabalha sozinho no cultivo de laranja e lima ácida Tahiti, em uma área de aproximadamente 12 hectares. Na sua propriedade outros quatro hectares são ocupados por reserva ambiental e represa. O senhor José faz todo o manejo do pomar sozinho e ao vender a produção, a colheita fica por conta do comprador. Sua produção segue para o mercado de fruta fresca. Dentre seus compradores, 2/3 adquirem os produtos todo ano.
O cuidado com o ambiente é mencionado por Gilberto Tozatti, consultor do Grupo de Consultores em Citros (GCONCI). “Citricultor, profissional da linha de frente responsável pela produção e qualidade de nossas frutas cítricas; consumida in natura ou na forma de suco como alimento natural, fonte de vitamina C, que em tempos de pandemia vem contribuindo para o aumento da imunidade de nossa sociedade. Seu trabalho e suor traz prosperidade e contribui para a sustentabilidade econômica de nosso país, A sua preocupação em preservar as áreas de reserva natural é exemplo para o mundo. Parabéns!”, diz Tozatti.
O diretor do IAC, Marcos Antonio Machado, comenta que dias comemorativos, como o Dia do Citricultor, instituído por iniciativa da Assembleia Legislativa, são oportunidades para lembrar o esforço de gerações, que há mais de um século tornam esse setor um dos mais importantes do País. “Parabéns aos citricultores. Continuem abraçando seus pomares como membros de suas famílias. Dedicação, competitividade e fé em seu negócio são os fatores de sucesso do citricultor paulista”, diz.
Desafios constantes
Mattos recorda que a citricultura sempre passou por pressões fitossanitárias, começando em 1940, com a Tristeza dos citros. Para superar esse desafio, a resposta foi o desenvolvimento de novos porta-enxertos. “O problema levou ao estabelecimento de novas estratégias de manejo, a doença permanece, mas melhoramos outros aspectos, como irrigação e controle de circulação de pessoas nos pomares”, afirma.
Em 1960 foi a vez de os pomares – e os citricultores – sofrerem com o cancro cítrico e a gomose. Mais uma vez, a ciência disponibilizou novas orientações sobre porta-enxertos, adubação, práticas sanitárias e tratos culturais. Tantos desafios fizeram com que, ao longo do tempo, o citricultor fosse se tecnificando cada vez mais. “Não existe zona de conforto, ele precisa estar atento a todas as inovações”, diz Mattos.
Em 1980, veio a clorose variegada dos citros (CVC), conhecida como Amarelinho, que ataca todas as variedades comerciais de citros, derrubando rapidamente a produção. Os recursos adotados foram a produção de mudas em viveiros, nutrição diferenciada e ferramentas de genômica aplicada a novos estudos. Em 2000, chegou a morte súbita dos citros (MSC), causando séria crise no setor, já que em menos de dois anos pode destruir de 30% a 99% das plantas. Houve novas recomendações da pesquisa relacionadas a porta-enxertos, fertirrigação e nutrição dos pomares.
Passados apenas quatro anos, em 2004, chegou a mais destrutiva doença dos citros, o huanglongbing ou HLB, confirmada pelo Centro de Citricultura. “Para seu enfrentamento, foram adotadas ações coordenadas envolvendo controle biológico, espaçamento de plantas, nutrição, poda, controle químico e estudos com biologia celular”, diz Mattos.
Na década 2010-2020, o setor vivencia novas pressões do HLB e do cancro cítrico. Isso porque o HLB continua sendo um enorme desafio, apesar das ações adotadas para controlar da doença e da sustentabilidade do sistema. Também nesta última década, o cancro cítrico voltou a afetar significativamente os pomares, diante do cancelamento da obrigatoriedade da erradicação de plantas doentes.
São Paulo tem 465 mil hectares com pomares de citros, distribuídos em 9,845 propriedades. Nessa área, 395 mil hectares são de laranja, onde são produzidas 350 milhões de caixas da fruta. O consumo interno varia entre 50 milhões e 100 milhões de caixas e o restante segue para exportação. “São Paulo responde por 76% da produção brasileira de citros e 34% da produção mundial de laranja, esse setor gera 200 mil empregos diretos e indiretos, não nos faltam motivos para cumprimentar a dedicação e a competência dos citricultores diariamente, em especial neste 8 de junho”, diz o secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Gustavo Junqueira.
O pesquisador comenta que os citros são perenes, condição que atribui longa vida ao pomar, diferentemente das culturas anuais, como o milho, que têm novas lavouras instaladas a cada ano. “Por conta das pressões fitossanitárias, essa longevidade caiu para 15 anos”, pontua. Isso significa que a adoção de novas cultivares, por exemplo, só acontece nas renovações desses pomares. A safra 2020/2021, que começa a ser colhida no final de maio e início de junho, sentirá os reflexos da pandemia da COVID-19 em decorrência da circulação de trabalhadores que vêm inclusive de outros Estados.
Machado, com atuação de mais de 25 anos no Centro de Citricultura do IAC, lembra que o futuro da citricultura cada vez mais está estritamente associado ao desenvolvimento científico e à inovação. “Os desafios impostos ao setor de produção de citros no Brasil, seja para a indústria seja para o mercado de fruta fresca, são cada vez mais tecnológicos. Embora o setor tenha perdido mais de 10 mil produtores nos últimos 15 anos, ele manteve e até mesmo aumentou sua produtividade”, avalia.
Para o diretor do IAC, o atual citricultor, mesmo mantendo vínculos quase familiares com seu pomar, sabe que sua competitividade depende cada vez mais de informação e tecnologia. “A produtividade de seu pomar é seu principal patrimônio e garantia de se manter no setor”, diz. Segundo Machado, a complexidade das relações entre produção, ambiente, mercado, indústria, pragas, doenças, mudanças climáticas e barreiras tarifárias e não tarifárias exigiu a tecnificação crescente da citricultura.
Tudo isso contribuiu para a proximidade cada vez mais estreita entre esse setor da produção no agro com a ciência e tecnologia. “Essa parceria pode e deve ser ampliada pois o setor de pesquisa, desenvolvimento e inovação da Secretaria da Agricultura existe para servir ao citricultor, fortalecendo-o com tecnologia e promovendo o desenvolvimento do setor e do Estado”, afirma.