Aplicativo faz análise financeira e socioambiental de sistemas agroflorestais
Produtores rurais que cultivam sistemas agroflorestais (SAFs) – formas de produção que auxiliam na redução do desmatamento e na promoção do reflorestamento em diferentes ecossistemas – contam agora com um aplicativo para auxiliar na gestão financeira e socioambiental de suas atividades: o AnaliSAFs. O aplicativo é um sistema digital que realiza análise financeira e socioambiental de sistemas agroflorestais. O objetivo é auxiliar produtores rurais, técnicos extensionistas, pesquisadores e manejadores de SAFs no aprimoramento de suas técnicas e melhoria dos resultados produtivos, sociais e ambientais de seus plantios.
“Os sistemas agroflorestais lidam com diversos tipos de cultivos na mesma área e praticamente ao mesmo tempo. Portanto, o planejamento e a constante análise são fundamentais para o sucesso do empreendimento”, explica Marcelo Arco Verde, da Embrapa Florestas, pesquisador responsável pelo módulo de análise financeira. “Uma ferramenta que auxilie nesse acompanhamento e a fazer simulações é de fundamental importância”, explica.
Como funciona?
O AnaliSAFs funciona em duas plataformas: em dispositivos Android, como celulares e tablets, e em computadores. A inserção dos dados pode ser feita diretamente no campo, mesmo em locais sem acesso à internet. O aplicativo armazena os dados e, quando é possível o acesso à internet, as informações são enviadas ao sistema. No computador, o usuário tem acesso aos dados coletados e à análise financeira. A ferramenta auxilia também no planejamento e na fase de acompanhamento devido à sua praticidade na obtenção dos dados parciais.
São abordadas informações sobre todas as atividades e operações necessárias para cada cultura do SAF, como custos de mão de obra e insumos, além da taxa de juros. Para cada cultivo do SAF, seja ele de curto, médio ou longo prazo, o usuário pode inserir dados individualizados. Com isso, o sistema disponibiliza uma análise financeira que possibilita ao usuário saber o impacto de cada item nos custos e receitas da produção agroflorestal.
“É possível, também, fazer simulações e projeções com análise de cenários”, explica Arco Verde. “Dessa forma, o usuário pode analisar as implicações de cada escolha feita na condução do seu sistema agroflorestal, compor cenários diferentes para cada cultura e ter a análise do SAF como um todo”, completa.
Já a análise socioambiental pode ser feita em campo mesmo e, por meio de gráficos radiais, o usuário pode analisar in loco as condições da área que está sendo trabalhada, de forma integrada. São seis grupos categorizados de perguntas que avaliam o grau de acesso que os agricultores têm a diferentes tipos de recursos: humanos; sociais e políticos; físicos; financeiros e comercialização; produtivos e resiliência ambiental; além de um grupo específico a respeito dos sistemas de produção, sua composição e manejo.
No total, são analisados 40 indicadores para, com isso, ter um retrato da situação do produtor rural em aspectos sociais e ambientais. “A partir dos resultados gerados, é possível auxiliar o produtor agroflorestal no aprimoramento e replanejamento da sua produção agroflorestal”, afirma Andrew Miccolis, coordenador nacional do Centro Internacional de Pesquisa Agroflorestal – ICRAF, na sigla em inglês, responsável por esse módulo.
“Com isso, avaliamos as vulnerabilidades e potencialidades para auxiliar no planejamento e desenho de um sistema que se encaixe naquele contexto ou, então, para avaliar um sistema já existente e analisar os principais pontos que podem ser melhorados, com SAFs que se encaixem no perfil social e ambiental daquele contexto específico”, completa Miccolis.
Thais Ferreira Maier, especialista em restauração florestal na The Nature Conservancy (TNC Brasil), que trabalhou no desenvolvimento e validação da ferramenta, analisa que o acesso aos dispositivos móveis já é uma realidade para muitos produtores e técnicos extensionistas e que o aplicativo vai justamente dar o suporte pela facilidade com que foi criado. “Se, por exemplo, o produtor comercializou algum produto que está trabalhando na propriedade, ele já pode fazer o registro dessa informação, off-line mesmo. O mesmo acontece com os custos. Isso é sincronizado e faz parte, depois, de uma análise do aplicativo”, explica Maier.
O processo de construção do aplicativo levou um ano e a validação foi feita com produtores de SAFs em São Félix do Xingu, no Pará. Segundo a produtora rural Valcilene dos Santos Primo, “fazer análise financeira é importante porque você se ‘autoeduca’: sabe no que tem que ser investido, em quanto tempo vai ter retorno, e no que não vale a pena investir”. Ela implantou há três anos e meio um SAF com cacau, açaí, jatobá, mogno africano, banana, acerola, gulosa e maracujá.
“Não adianta fazer o trabalho de forma desregrada, trabalhar de qualquer forma, isso não é legal porque pode dar muito prejuízo. A rentabilidade e o lucro têm que ser levados em conta. É preciso que a gente se eduque em relação a isso para não se desgastar tanto lá na lavoura. O desgaste físico é muito grande. e então, para ganhar tempo tem que se educar sim”, reflete a produtora.
O aplicativo é uma junção da planilha AmazonSaf, desenvolvida pela Embrapa, e do sistema PlantSAFs, do ICRAF, e foi desenvolvido por meio de uma parceria entre a TNC, ICRAF, Embrapa e International Union for Conservation of Nature (IUCN). Segundo Rodrigo Mauro Freire, vice-coordenador da estratégia de restauração da TNC Brasil e coordenador do projeto Cacau Floresta, “a TNC encampou essa iniciativa para fomentar o desenvolvimento e o aprimoramento de sistemas agroflorestais sucessionais na lógica de criar alternativas ao desmatamento ou à conversão de áreas naturais pela geração de renda”.
Para ele, essa é uma forma de proporcionar um melhor manejo dos recursos naturais e também de promover a restauração florestal via sistemas agroflorestais, fazendo uso das espécies nativas com agregação de renda.
Levantamento inédito de dados
Ao acessar o aplicativo, os usuários concordam em disponibilizar seus dados para uso em pesquisas e levantamento de informações. “Saberemos, por exemplo, que regiões e estados estão acessando mais, quais espécies estão sendo mais trabalhadas, como isso está se refletindo financeiramente e também nos aspectos socioambientais. Será um passo muito importante para quem trabalha com SAFs”, explica Maier.
“Essa pode ser uma revolução nos dados sobre SAFs no Brasil, já que não existe uma base ou mesmo um levantamento nesse sentido no País”, anima-se Arco Verde. Futuramente, a análise desses dados poderá subsidiar a formulação de políticas públicas e até mesmo o direcionamento de pesquisas e treinamentos em determinadas regiões do País que se mostrem mais carentes ou com baixo desempenho na geração de renda e impacto ambiental com SAFs.
Rodrigo Freire, da TNC, explica que “um aspecto importante é que esse aplicativo pode ser fortemente vinculado à pesquisa e à inovação, pois pode e deve contribuir para o aprofundamento das análises de sistemas agroflorestais”.
Marcelo Arco Verde explica que a planilha AmazonSaf continuará existindo e será constantemente atualizada, pois cumpre outras funções que o aplicativo ainda não atende. “Nossa intenção é sempre aprimorar as ferramentas aos produtores rurais. Os SAFs têm uma capacidade fantástica de expansão no País, mas precisam ser feitos com planejamento e muita análise”, alerta.
Capacitação
Para uso do sistema, o site disponibiliza tutoriais, vídeos e manual sobre como utilizar o AnaliSAFs. Programas de treinamento também devem ser incorporados às atividades da TNC, Embrapa e Icraf.
Para acessar o AnaliSAFs, clique aqui.
Serviço:
O AnaliSAFs será lançado nesta quarta-feira, 29/08, às 11h30, ao fim do minicurso “Análise da Viabilidade Financeira de Sistemas Agroflorestais”, que será ministrado pelo pesquisador Marcelo Arco Verde, da Embrapa Florestas, durante o Congresso Brasileiro de Sistemas Agroflorestais (CBSAF), que acontece de 27 a 31 de agosto, em Aracaju/SE.
Fonte: Katia Pichelli (MTb 3594/PR)
Embrapa Florestas