São Paulo produz 90% do amendoim brasileiro e abriga parte importante dos demais elos da cadeia produtiva
Paçoca e pé de moleque são doces típicos no Brasil, principalmente em junho, quando se celebra as Festas Juninas. Devido a pandemia do novo coronavírus (Covid-19), as comemorações deste ano foram afetadas, mas nada impede que a população se delicie em casa com o amendoim, produto fruto do agro paulista, que é responsável por 90% da produção nacional e abriga parte importante dos demais elos da cadeia de produção.
A safra de amendoim deste ano foi beneficiada pelo clima e a alta do dólar favoreceu as exportações, gerando renda aos produtores do Estado, mesmo no momento de pandemia. Durante todo o mês de junho, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo divulgará semanalmente textos sobre produtos juninos paulistas que recheiam as mesas durante essa época do ano e suas ações para fomentar a produção na área de pesquisa, extensão rural e abastecimento.
Dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA-APTA) mostram que a produção de amendoim em São Paulo, em 2019, foi de 602,9 mil toneladas, produzidas em 1.500 propriedades rurais, localizadas, principalmente, em Jaboticabal, Presidente Prudente, Tupã, Marília, Barretos, São José do Rio Preto, Assis, Lins, Catanduva e Ribeirão Preto. O Valor de Produção do Amendoim no ano foi de R$ 1,03 bilhões.
Ao todo, 198 mil toneladas de amendoim em grãos foram exportadas pelo Estado de São Paulo, principalmente para Rússia, União Europeia e Argélia. Outras 39 mil toneladas de óleo de amendoim foram também exportadas pelo Estado para China e Itália. O valor arrecadado com essas transações chegou a 276 milhões de dólares. No mercado interno, o produto é utilizado principalmente na indústria para produção de confeitos, amendoim salgado e pastas proteica.
De acordo com Rodrigo Lemes, diretor de Tupã da Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS), o clima ajudou os produtores na safra deste ano e a pandemia não afetou a produção, já que o amendoim não é um produto perecível. “Houve um aumento de cerca de 10% na produtividade na área de cultivo. Os produtores estão comemorando a alta nos valores pagos”, afirma. “Nos dois anos anteriores, a seca afetou a produção, mas neste ano está sendo favorável ao Brasil com a saca valendo R$ 70,00. O amendoim colhido é de excelente qualidade e o dólar alto aqueceu o mercado de exportação”, confirma Luís Carlos Rodrigues, engenheiro agrônomo responsável pela Casa da Agricultura de Quintana, da área de atuação da CDRS Regional Marília.
Bom para produtores rurais, indústria e consumidores
Quem abre um pacotinho de pé de moleque ou de paçoca, consome amendoim torrado com cerveja ou até mesmo a pasta de amendoim antes do treino da academia pode nem mesmo notar, mas a produção da oleaginosa é baseada em ciência e São Paulo é também líder neste quesito. Estima-se que 70% das lavouras paulistas de amendoim sejam plantadas com cultivares desenvolvidas pelo Instituto Agronômico (IAC-APTA).
O IAC tem trabalhado no desenvolvimento de variedades do tipo runner, rasteiros e com vagens de duas sementes de pele clara, os mais procurados pelo mercado interno e externo. Os materiais possuem ainda a característica “alto oleico”, ou seja, alto teor de ácido oleico, que proporciona maior vida de prateleira do produto.
Em 2019, o Instituto lançou na Agrishow, o IAC Sempre Verde, primeira cultivar adequada para o mercado de produtos orgânicos. Esse amendoim tem grãos de pele vermelha, assemelhando-se ao de antigas variedades do tipo Tatu, muito plantadas no passado. Seu grande destaque é a alta resistência a doenças foliares. “A produtividade da IAC Sempre Verde pode atingir cinco mil quilos por hectare sem o uso de fungicida, resultado muito superior ao obtido por todos os amendoins existentes atualmente no mercado”, explica Ignácio José de Godoy, pesquisador do IAC. Pesquisas visando adaptar essa variedade para a produção de amendoim orgânico já estão sendo realizadas pela Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) e o IAC.
Além do desenvolvimento de novas cultivares de plantas, a pesquisa paulista também realiza trabalhos relacionados ao manejo das principais pragas e doenças da cultura, como o tripes-do-prateamento, a lagarta-do-pescoço-vermelho e o percevejo-preto, mancha-preta, além do percevejo-preto e a mancha preta. Há trabalhos ainda relacionados ao cultivo de amendoim na palhada da cana.
Amendoim é paulista!
As regiões da Alta Paulista e Alta Mogiana têm destaque na produção e comercialização. “Em Jaboticabal, o amendoim é a segunda cultura com maior área produtiva, sendo grande parte produzida em sistema de rotação de cultura na terra ocupada pela cana. Graças a esta expressividade, o município de Jaboticabal, em 2018, foi nomeado como a “Capital do Amendoim”, pois de cada quatro toneladas que o Brasil exporta, uma é produzida aqui. São na maioria pequenos e médios produtores que se dedicam à produção em família e impulsionam a economia regional, entregando a matéria-prima para as agroindústrias do município e região”, afirma Fabiana Gouvêa, diretora da CDRS Regional Jaboticabal.
Comandada desde 2014 por José Antonio Rossato Junior, a Cooperativa Agroindustrial (Coplana) está à frente da produção paulista quando se trata de amendoim. Reunindo 150 produtores, conseguiram fazer do amendoim uma das grandes culturas paulistas. “Esta é uma das melhores safras da cultura. O crescimento médio da produção tem sido de 12% ao ano, tornando São Paulo responsável por 90% da produção nacional. O amendoim é paulista!” afirma Rossato.
De acordo com ele, o amendoim tem sido bastante cultivado em sistema de rotação de cultura, o que traz vantagens agronômicas para a oleaginosa, além quebra de ciclo de pragas, doenças e plantas invasoras reciclagem de nutrientes do solo. Atualmente, ele é consorciado à cana-de-açúcar, formando um “casamento perfeito”, com vantagens para ambas as culturas. “Até o final da década de 1990 a colheita era manual e dificultava o crescimento, demandava custos altos com mão de obra. A partir daí, a Cooperativa, junto à indústria nacional de máquinas, buscou tecnologia para a colheita mecanizada no exterior e houve paralelamente melhoramento nas cultivares, passamos a entregar o que era desejado pelas indústrias de alimento e uso de cultivares com maior tempo de prateleira. Foi um grande salto e devemos muito à Secretaria de Agricultura porque mais de 70% das variedades utilizadas surgiram do programa de melhoramento do IAC”, salienta.
Processamento, saudabilidade e economia circular
O Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL-APTA) atua em quatro frentes junto à cadeia do amendoim, em especial por meio de análises de controle de qualidade com laboratório credenciado pelo Programa Pró-Amendoim, selo da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab) que leva em consideração regulamentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
O ITAL também se destaca na capacidade de oferta de pacotes tecnológicos para o desenvolvimento de novos produtos, explorando os efeitos benéficos do amendoim como alto teor de ácidos graxos monoinsaturados e elevado valor proteico, e de promoção da industrialização com equipamentos de pequeno porte, viáveis a micro e pequenas indústrias, empregando tecnologia nacional e diminuindo a dependência brasileira de grandes players multinacionais. A quarta frente de atuação está na capacidade de oferecer suporte técnico para realizar pesquisas, principalmente alinhadas a conceitos de economia circular e sustentabilidade como o reaproveitamento de excedentes da indústria como a casca e o óleo para obtenção de ingredientes competitivos de alta performance tecnológica com propriedades funcionais.
Consumo
O amendoim possui quantidade significativa de proteínas. Aproximadamente 25% da sua composição é proteica, o que o coloca como uma excelente estratégia na alimentação de adultos e crianças, segundo nutricionistas da Coordenadoria de Desenvolvimento dos Agronegócios (Codeagro). Ele é um alimento rico em ácidos graxos poli-insaturados, considerados gorduras boas, responsáveis pela prevenção de doenças cardiovasculares, juntamente com o resveratrol, substância natural presente no amendoim em alta concentração. Além disso, uma porção de 30g de amendoim fornece 25% da recomendação diária do consumo de vitamina E e alto teor de Zinco.
Segundo as profissionais, todos esses nutrientes fazem do amendoim um excelente aliado à saúde, colaborando também na prevenção de câncer, envelhecimento precoce e anemia. Além de auxiliar na manutenção da saúde muscular e reduzir os riscos de má formação fetal. Mas atenção, o armazenamento do amendoim é um fator importante para determinar a qualidade do produto. Quando exposto ao calor e à umidade, ele pode ser contaminado por um fungo produtor de aflatoxina, substância causadora de graves intoxicações no organismo humano.
Na hora de acondicionar o produto em casa, os consumidores também devem ficar atentos a infestações do produto por traças, que depositam seus ovos nas embalagens ou diretamente nos grãos, farinhas, farelos e produtos a base deste ingrediente. Além disso, deve-se ficar atentos aos besouros que podem perfurar as embalagens ou se aproveitar de danos mecânicos das mesmas. A dica para evitar a ocorrência dessas pragas no armazenamento, segundo o pesquisador do Instituto Biológico (IB-APTA), Marcos Potenza, é acondicionar o ingrediente em recipiente bem fechado.
Fonte: Assessoria de Comunicação
Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo
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